Listen to me

domingo, 20 de novembro de 2011

Zé no Bar


Eu não ia sair, mas decidi por causa da mensagem. Fiquei meio louco e inquieto. Não suportaria ficar aqui estático. Claro, tinha de ir pra rua me embebedar.

Mas o bar era um saco e, como havia poucos lugares abertos, tive de suportar um lugar que tocava uma musica horrível. Pedi ao garçom para mudar, mas ele me falou que isso era algo impossível. Havia a possibilidade de beber e ignorá-la e foi o q eu fiz.

Sabe algo que não suporto também? Quando há alguém, algumas pessoas conversando alto e gargalhando em suas mesas (e certamente, sempre é, por motivos mais débeis possíveis). Eu tenho vontade de avançar na mesa e exterminá-los. Havia umas três mesas dessas ontem, cheias de babacas.

Pior foi quando eu acendi um cigarro e baforei a fumaça pelo ambiente e metade do bar olhou procurando quem era que estava cometendo aquela calamidade social. E logo me viram, claro. Agora fumar virou crime!

Eu sou um criminoso social, cheio de amor. Amor, nicotina e álcool: a tríade! Três notas musicais para a alma ensandecida.

Eu estava com vontade de ouvir Chopin, Brahms, Bach... Até o Beethoven. Mas o filha da puta dos infernos jamais tocaria isso naquele bar. Um dia vi em um filme um cara que pensava que Beethoven era aquele cão do filme. É certo que o otário lá ia pensar a mesma coisa. Chopin, ia pensar que eu estava querendo chope, e já ia dizer que não tem. Aliás, percebi que ele queria que eu fosse embora, porque até as cervejas foram baixando de categoria. Sempre que acabava uma, ele vinha me dizer que aquela era a ultima.

Já de saco cheio, falei que não importava mais me dizer qual que tinha, podia trazer qualquer uma. Uma mulher ouviu, olhou pra mim e riu. Aí eu falei: daqui a pouco ele me traz cicuta. Aí ela completou: ah, mas aposto que se tiver álcool você não vai reclamar. O que me fez rir.

Ah, Sócrates! Imagina isso que me ocorreu aqui: Sócrates e a cicuta! E agora nos tempos modernos Sócrates tá com cirrose. Até que cicuta é uma palavra que se assemelha a cirrose, quase gêmeas.

Eu estava mais solitário que a jarra do balcão do Mastercard. Essas jarras que chamam de solitárias. Vão lá e colocam uma flor, condenada a morrer sozinha como em formol.

Eu vi um casal indo embora bêbados, um segurava o outro. Achei bacana demais aquilo. E eu sabia que o mais triste é que eu ia embora sozinho.



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13 de março de 2019
José Ricardo Cunha Leal - Autor do texto e acho que nem sabe que ele existe. Sinto falta.

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